sábado, 10 de setembro de 2011

Postura e esforço estão entre as causas das lesões em músicos

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  Características físicas à parte, as causas mais comuns de doenças ocupacionais entre músicos são os movimentos repetitivos, as posturas inadequadas e o esforço exagerado –e muitas vezes desnecessário– ao tocar o instrumento.Mesmo quem toca por hobby está sujeito a complicações. O aposentado Tobias Rubistein, 75, toca flauta e saxofone de forma amadora e teve uma epicondilite lateral do cotovelo –lesão que acomete os tendões da região devido a movimentos repetitivos.O problema, afirma, estava relacionado à forma como empunhava a flauta. Após algumas sessões de fisioterapia, pôde voltar a tocar normalmente –incluindo as apresentações voluntárias que faz, uma vez por mês, num centro para idosos. Segundo os especialistas, os riscos também dependem das outras atividades que o músico amador realiza. Lima, da Exerser, cita como exemplo pessoas que digitam no computador e tocam piano. “Os movimentos são parecidos e o risco aumenta.”

contabaixista_costas.jpgGreg Salibian/Folha Imagem O contrabaixista Lucas Espósito, que desenvolveu uma hérnia de disco por se curvar demais ao tocar contrabaixo acústicoMas,

  em geral, o profissional é quem mais sofre. “É como comparar o maratonista com a pessoa que faz uma caminhada”, afirma Fonseca.Lucas Espósito,27, da Academia de Música da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), desenvolveu uma hérnia de disco por se curvar demais ao tocar contrabaixo acústico, instrumento que estuda há cinco anos, durante cinco horas por dia, em média. Ele sentia dor na região lombar há alguns anos e, em janeiro deste ano, travou após uma apresentação. Resolveu fazer pilates, mas, como não sabia que tinha uma hérnia, realizou alguns movimentos que agravaram a situação.Para melhorar o quadro, Lucas fez ioga, pilates e hidroterapia, além de estar mais atento à postura. “Talvez se eu tivesse dobrado os joelhos, tentado manter a lombar mais ereta, não tivesse esse problema”, diz ele, que até já se filmou tocando para levar a gravação à consulta.Outro aspecto que costuma afetar os músicos é a pressão emocional –e seus reflexos na tensão muscular. “A ansiedade pelo bom desempenho faz a pessoa se esquecer da dor e se submeter a níveis inimagináveis de esforço físico e de agressão ao corpo”, diz Fonseca.Aprender a relaxar é fundamental, afirma Alexandre Feldman, médico responsável pelo programa Medicina e Qualidade de Vida da Osesp. “Os músicos são uma população peculiar. Eles trabalham quando os outros estão descansando, sofrem pressão para mostrar perfeição e sincronia absoluta. Isso leva a muito estresse, que gera alterações hormonais, afeta a imunidade… É um ambiente propício ao desequilíbrio da saúde.”O programa desenvolvido na Osesp busca prevenir problemas como lesões por meio de mudanças no estilo de vida dos músicos. Um dos principais desafios, diz Feldman, tem sido o sono –prejudicado pelo excesso de trabalho.Muitos músicos ensaiam e dão aulas particulares durante o dia, apresentam-se à noite e, não raro, também têm o fim de semana e os feriados ocupados por compromissos profissionais.O baterista Gustavo Souza, 34, conhece essa rotina. “Recentemente, trabalhei de madrugada, fui dormir às 5h e, às 10h, já tive ensaio. É difícil recompor a energia toda”, conta ele, que já teve tendinite e, freqüentemente, sente dores nas costas –relacionadas não só aos momentos em que toca a bateria, mas também ao fato de ter de carregar, montar e desmontar o instrumento.No Carnaval, foi ainda pior. Ele passou o feriado trabalhando em Recife, num ritmo intenso e, ao voltar para São Paulo, ficou tão mal devido a uma virose que precisou ser internado. “Acho que o estresse e o cansaço influenciaram”, afirma. Segundo Fonseca, músicos populares costumam enfrentar condições de trabalho ainda mais insalubres do que as dos músicos eruditos. “A maioria trabalha em situação informal e mal remunerada”, afirma.”A gente não tem segurança financeira”, conta o baterista Carlos Eduardo Zulino, 28, que, quando abre o pulso, coloca uma proteção e toca mesmo assim -em média, quatro horas por dia. “Não dá tempo de recuperar.”

AMARÍLIS LAGEda Folha de S.PauloSÍLVIA AMÉLIA DE ARAÚJOColaboração para a Folha de S.Paulo

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