Certa vez alguem afirmou que era preciso ser escultor, poeta, artista e filósofo para ser um grande violoncelista. Em grande parte isto é verdade, pois para se tocar obras como as Suítes de Bach, faz-se necessária uma profunda compreensão de sua estrutura, fraseado, harmonia e nuanças. Mas o conceito do grande cellista é um fenômeno relativamente recente, pois, embora houvesse virtuosos nos séculos XVIII e XIX, tais como Boccherini, o cello, naquela época, ainda não havia se imposto como instrumento solista de importância.
É claro que muitos dos artistas do início do século XX, como Piatigorsky, Pablo Casals, Julius Klengel e Emmanuel Feuermann, dedicaram-se à ampliação das técnicas do violoncelo. Feuermann, em particular, adotou certos princípios do virtuosismo para o cello com notável sucesso, principalmente nos registros mais agudos do instrumento. Da mesma forma, a França estava produzindo uma geração de grandes executantes durante a década de 1940, entre
os quais Pierre Fournier, André Navarra, Maurice Gendron e Paul Tortelier (arte) , o virtuoso extremamente popular, todos eles se destacando por seu estilo clássico de execução. O ponto alto dessa tradição foi um manejo do arco extremamente fluído, embora o timbre fosse, por vezes, mais nasal que vigoroso.
As vigorosas gravações de Feuermann ainda nos encantam por sua maestria técnica, bem como as de Pablo Casals, notáveis por sua introspecção. Por quê? Em grande parte, porque eles eram personalidades bem definidas – nós os reconhecemos por seu estilo de execução instantaneamente e por seu timbre individual, moldado em boa parte da forma como os cantores acariciam seu vibrato. Talvez seja significativo que suas carreiras não fossem governadas, desde o início, por um empresário – um fenômeno recente, muito pouco salutar e estressante, que, por vezes, chega a parecer uma exploração voyeurista do jovem talento. Fournier (busto) , por exemplo, tocava em teatros, cassinos e cinemas para equilibrar seu orçamento, antes de embarcar em sua carreira mais ilustre, enquanto Tortelier ganhava a vida em cafés e restaurantes antes de entrar para a Orquestra da Rádio de Paris. O problema é que, para que o artista ilumine a música e produza descobertas relevantes, ele precisa ter uma certa experiência de vida, um fato comprovado por muitas gravações um tanto insípidas de alguns virtuoses de hoje.
É claro que nenhuma discussão a respeito de cellistas pode omitir o legendário Rostropovich (aqui retratado num desenho de Salvador D’Ali) – um artista sempre nos extremos da criatividade, ligado à produção das mais importantes obras para cello do século XX. Quantas pessoas podem se orgulhar de ter influenciado Prokofiev, Chostakovich ou Britten? Enquanto teve saúde (faleceu em 2007), ele estreou mais de 100 novas obras para violoncelo, e transformou em cativante o que seria um material pouco promissor nas mãos de gente menos importante. Além disso, deu aulas a alguns dos melhores cellistas, como Mischa Maisky, Natalia Gutman e a magnética Jacqueline du Pré, já falecida. Sua tradição de inspirar novos compositores tem tido continuidade por parte de muitos colegas mais jovens, tais como Thomas Demenga, que já gravou muitas complexas obras contemporâneas, como a Sonata Bernd Alois Zimmermann.
SEIS GRANDES OBRAS PARA VIOLONCELO
Concerto para violoncelo de Elgar
Concertos para violoncelo de Dvorak e Schumann
Concerto para violoncelo nº1 de Chostakovich
Suítes para violoncelo de J.S. Bach
Sonatas para violoncelo de Beethoven
Sonatas para violoncelo 1 & 2 de Brahms
SEIS GRANDES VIOLONCELISTAS
Violoncelista de fama mundial, não apenas pelo seu trabalho como solista, mas também por sua música de câmara com Alfred Cortot e Jacques Thibaud.
Russo que foi o principal violoncelista da Orquestra da Ópera de Moscou e da Filarmônica de Berlim antes de se tornar solista. A ele foi dedicado o Concerto para violoncelo de Walton, cuja primeira audição foi por ele interpretada.
A vibrante e maravilhosa violoncelista cujas apaixonadas execuções ainda em sua adolescência e logo após granjearam-lhe aclamação internacional. Sua carreira teve uma prematura e abrupta conclusão devido à esclerose múltipla.
Russo, um espírito livre grandemente admirado por muitos, especialmente por suas execuções de música russa que ele descrevia com incandescentes.
Um dos principais nomes do início do movimento de música de época desde a década de 1960, este virtuoso holandês especializou-se em obras do período Barroco, embora seu repertório seja amplo.
Inspiração para muitos compositores, inclusive Prokofiev, Chostakovich e Britten, que escreveram obras para ele. Em 1974 deixou a Rússia para nunca mais voltar, depois de problemas com as autoridades soviéticas devido à sua defesa do romancista Soljenitsin.
SETE GRANDES VIOLONCELISTAS DE NOSSO TEMPO
Transforma em obras-primas o que outros executam como composição de segunda linha, como, por exemplo, suas gravações das Sonatas de Grieg e Rubinstein. Sempre com originalidade, ele dá nova vida ao repertório básico: por exemplo, sua última gravação do Concerto para violoncelo de Haydn, em que se destaca a qualidade vocal que ele atribui ao fraseado.
Grande força na execução e uma vívida sensação de caracterização musical.
Magistral comando intelectual da estrutura da música, o que permeia todas suas gravações, sem sacrificar o conteúdo expressivo. Entre os principais cellistas, seu repertório talvez seja o mais amplo, com gravações bastantes aclamadas do Concerto para violoncelo de Schumann, do Concerto de Lutoslawski (com o compositor regendo), os Concertos de Chostakovich, e uma versão das suítes de Bach com instrumento moderno.
Sempre eloquente em suas execuções, a força de Ma está em sua versatilidade e seu grande interesse pela música contemporânea. Ele já fez a estréia de várias obras para o instrumento, seguindo os passos de Rostropovich. Ma é um excelente músico de câmara.
O brasileiro já foi criança prodígio e depois de vencer o Concurso Tchaikovski, em 1982, foi chamado por ninguém menos que Herbert Von Karajan para fazer dois discos para a toda-poderosa gravadora Deutsche Grammophon (a maior do mundo em música erudita). Como voltou para o Brasil, luta para conseguir gravar, nem que seja num selo medíocre… E viva o Brasil, o país da cultura!!
Seu repertório é um dos mais abrangentes entre os cellistas da “nova geração”, indo das execuções em instrumentos de época à música contemporânea de Schnittke, Carter e Kagel. Igualmente convincente na plataforma de concerto e em gravação, sua individualidade e expressão poética caracterizam-no como instrumentista de destaque.
Depois da excelente gravação das Sonatas para violoncelo de Beethoven com Martha Argerich (pianista argentina e uma das maiores do mundo), destacou-se no repertório romântico com uma surpreendente versão das Variações Rococó de Tchaikovski. Mas nenhuma delas se equipara à introspecção do Concerto Nº2 para violoncelo de Chostakovich, nem às qualidades vocais de sua execução da Arpeggione de Schubert.
Cito ainda os nomes: Janos Starker, Frans Helmerson, Ralph Kirshbaum, Karine Georgian, Raphael Wallfisch, Tim Hugh e Robert Cohen.
Caso o leitor queira destacar outros nomes para complementar ou caso discorde de algum nome citado, fique à vontade para usar os comentários.
Fontes: Revistas Classic CD Nº 17, 22 e 25
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