As Suites para violoncelo solo de Bach são consideradas obras máximas, obrigatórias a qualquer celista de primeira. São um desafio tão grande que não existem duas interpretações iguais. Quando Janos Starker terminou sua 5a. gravação das suites em 1992, com 70 anos de idade, ele disse: "Tocar Bach é uma permanente busca pelo belo. É também uma procura pela verdade e pode-se apenas chegar perto dela. Á medida em que os anos passam o entendimento das suites cresce e os recursos técnicos diminuem. Esta 5a. gravação é para ser meu último depoimento sobre as suites, mas certamente não será o definitivo. Tal como antes, foi uma experiência enriquecedora."
O que mais surpreende nas suites é o fato de terem sido escritas para violoncelo solo. À primeira vista podemos argumentar que isso implica em uma concepção do cello como voz solista altamente viril, como parece ter sido a sugestão de Lineke e de Abel a Bach. Mas, para Bach, unir o cello a outras vozes significava a redução a mero instrumento de suporte. O caminho seguido por Bach para dar ao cello a importancia que ele desejava foi simples: escrever para violoncelo solo e fazer com que o próprio instrumento provesse o baixo. É de se notar nas suites que seria totalmente supérfluo escrever uma linha de baixo para elas. Dessa forma, são obras que se suportam sozinhas e o efeito é notável.
As suites têm algumas particularidades interessantes:
Uma curiosidade existe com relação à Suite No.5: é o uso da scordatura, ou seja, da afinação de uma corda fora do seu padrão usual. A corda assim afinada é dita estar em discordato; se pode falar também em cello discordato. Na Suite No.5 a corda A (Lá) do cello é afinada abaixo, em G (Sol). Isso era praticado ao tempo de Bach com a finalidade de adicionar novos efeitos de cor e harmonia, mas não se sabe ao certo por que ele usou a scordatura nessa suite.
Outra curiosidade é o fato de a Suite No. 6 ter sido escrita para cello de 5 cordas ? o grand violoncelle ? que existia ao tempo de Bach. Na época o violocelo que hoje conhecemos era chamado de violoncelle piccolo. Enquanto o violoncelo usual tem suas cordas afinadas em A, D, G e C, o grand violoncelle é afinado ? para a Suite No. 6 ? em A, D, G, C e E; ou seja, é como se o cello ganhasse uma corda mais aguda, afinada em Mi.
Também a se notar é a particularidade no Prelúdio da Suite No. 1, que usa o mesmo fraseado da introdução da Partita em Dó Maior para o piano. A primeira frase é exatamente a mesma, apenas com a diferença da tonalidade: a introdução da partita para piano é escrita em Dó maior e o prelúdio da Suite No.1 é em Sol Maior. Essa primeira frase foi inspiração para Gounod ao compor sua Ave Maria!
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