O que mais surpreende nas suites é o fato de terem sido escritas para violoncelo solo. À primeira vista podemos argumentar que isso implica em uma concepção do cello como voz solista altamente viril, como parece ter sido a sugestão de Lineke e de Abel a Bach. Mas, para Bach, unir o cello a outras vozes significava a redução a mero instrumento de suporte. O caminho seguido por Bach para dar ao cello a importancia que ele desejava foi simples: escrever para violoncelo solo e fazer com que o próprio instrumento provesse o baixo. É de se notar nas suites que seria totalmente supérfluo escrever uma linha de baixo para elas. Dessa forma, são obras que se suportam sozinhas e o efeito é notável.
As suites têm algumas particularidades interessantes:
Uma curiosidade existe com relação à Suite No.5: é o uso da scordatura, ou seja, da afinação de uma corda fora do seu padrão usual. A corda assim afinada é dita estar em discordato; se pode falar também em cello discordato. Na Suite No.5 a corda A (Lá) do cello é afinada abaixo, em G (Sol). Isso era praticado ao tempo de Bach com a finalidade de adicionar novos efeitos de cor e harmonia, mas não se sabe ao certo por que ele usou a scordatura nessa suite.
Outra curiosidade é o fato de a Suite No. 6 ter sido escrita para cello de 5 cordas ? o grand violoncelle ? que existia ao tempo de Bach. Na época o violocelo que hoje conhecemos era chamado de violoncelle piccolo. Enquanto o violoncelo usual tem suas cordas afinadas em A, D, G e C, o grand violoncelle é afinado ? para a Suite No. 6 ? em A, D, G, C e E; ou seja, é como se o cello ganhasse uma corda mais aguda, afinada em Mi.
Também a se notar é a particularidade no Prelúdio da Suite No. 1, que usa o mesmo fraseado da introdução da Partita em Dó Maior para o piano. A primeira frase é exatamente a mesma, apenas com a diferença da tonalidade: a introdução da partita para piano é escrita em Dó maior e o prelúdio da Suite No.1 é em Sol Maior. Essa primeira frase foi inspiração para Gounod ao compor sua Ave Maria!
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